
É cada vez mais frequente ouvirmos pessoas a referirem sentirem ansiedade no seu quotidiano. Qualquer pessoa já experienciou sintomas físicos de ansiedade de uma forma adaptativa, uma vez que é uma resposta natural do nosso organismo quando antecipamos uma possível ameaça. Neste sentido, para entendermos a ansiedade a nível fisiológico, precisamos de compreender a “resposta de luta ou fuga”, que é um mecanismo de defesa do nosso organismo, uma resposta fisiológica imediata quando nos encontramos perante uma situação que consideramos ser mental ou fisicamente perturbadora. A perceção de ameaça ativa o nosso sistema nervoso simpático, desenvolvendo uma resposta de stress que prepara o organismo para lutar ou fugir, surgindo sintomas físicos como taquicardias, hiperventilação, sudorese, entre outros.
Se pensarmos de um ponto de vista evolutivo e tendo em conta os nossos ancestrais, a resposta de fuga ou luta era necessária no sentido de garantir a sobrevivência, uma vez que as ameaças eram constantes (e.g., caçar para comer, fugir de um leão).
Nos dias que correm, apesar de já não termos os perigos que outrora tínhamos e por isso já não existir a necessidade de lutar, fugir ou congelar, a verdade é que o nosso organismo não o reconhece e, portanto, continua a reagir fisiologicamente da mesma forma, provocando esse tipo de sintomas físicos. A questão é que, hoje em dia, os nossos receios são ideias como “E se não tenho um bom desempenho na apresentação do projeto? E se chego atrasada à primeira aula?”. Neste sentido, atualmente o nosso organismo desencadeia esta reação fisiológica de luta ou fuga em situações que não ameaçadoras e onde não é necessário.
Outro conceito importante a referir quando falamos sobre ansiedade é o controlo. O controlo (ou a ilusão de) é uma necessidade frequente no ser humano, especialmente em pessoas que experienciam sintomas de ansiedade, e surge no sentido de querermos ter algum tipo de previsibilidade e segurança no nosso dia-a-dia. Desta forma, quando alguém começa a experienciar sintomas físicos de ansiedade, sente que não tem controlo sobre si mesmo e sobre o que sente, começando a sentir medo de que esses mesmos sintomas se demonstrem nas mais variadas atividades do quotidiano – ou seja, sente uma insegurança frequente e vai estar em alerta constante. Deste modo, começa a esforçar-se para antecipar mentalmente possíveis cenários hipotéticos e catastróficos para tentar ao máximo controlar as consequências desses possíveis cenários (e.g., “E se vou ao supermercado e sinto ansiedade? E se estou no trânsito e me sinto mal, como irei fugir dessa situação?”), podendo, até, começar a evitar as mais diversas situações com o intuito de não experienciar esse desconforto. O problema surge no facto de ser impossível prevermos o que irá acontecer no futuro, e, quanto mais vigilantes estivermos das nossas sensações corporais, mais intensamente as vamos sentir e mais difícil será diminuí-las. Desta forma, o controlo é uma ilusão.
Teremos que, nestas situações, desenvolver um trabalho terapêutico no sentido de voltar a construir a confiança e segurança que o indivíduo sente em si próprio, com o objetivo de voltar a sentir-se capaz de enfrentar as mais diversas situações que lhe poderão surgir e encarar a vida tal e qual como ela é - imprevisível.
Iara Videira